terça-feira, 29 de novembro de 2016

Pombagira Mirim


E seus encantos...

Diferentemente das Pombagiras Meninas, uma pombagira mirim guarda um mistério... Enquanto as Pombagiras Meninas contam suas histórias e possuem um nome em particular, as pombagiras mirins preferem ocultar sua história atrás da Falange a qual pertencem e apresentam apenas um nome simbólico, como: Folhinha, Estrelinha, Ondinha, Caracolzinho, Morceguinha, Veludinha, Tatinha, Borboletinha, etc. Elas também costumam trajar as vestes do nome que carregam: uma roupa cheia de folhas para Folhinha, uma roupa cheia de estrelas para Estrelinha, uma roupa cheia de caracóis para Caracolzinho, e assim por diante.
As pombagiras Mirins são como os Exus Mirins: quase não aparecem em um trabalho, quase não as vemos e poucos as conhecem. Mas, elas são as transmutadoras das energias do plano espiritual. Muitas vezes as vemos tristes ou caladas, em outras, silenciosas, apenas espreitando, em outras ainda, falando bastante e dançando. E assim, elas trabalham e se vão para sua morada espiritual e ficamos sem saber quem elas são...

Pombagira Maria Padilha do Lodo


A Senhora da Transformação!

Essa Pombagira trabalha primeiramente na Linha de Nanã, mas também atua na Linha das Águas e de Oxóssi. Sua principal função é transportar da aura das pessoas as impurezas astrais para o lodo etérico, para: limpar, transmutar e devolver a energia em forma de cura. Ela pode atuar em diversos campos dentro do terreiro: magia, amor ou cura. É uma excelente ouvinte dos corações sofridos e uma ótima conselheira para os corações partidos.
Sua história é tão antiga quanto a da própria Maria Madalena, mas ela não gosta de contar. Ela diz que histórias terrenas são apenas para entreter os incrédulos, pois aqueles que acreditam não precisam de histórias. Também diz que não gosta de relembrar o que passou, mas que poderá contar sua história somente àquele com quem trabalha. Ela é assim: cheia de mistérios e delicadeza.
Em seus atendimentos gosta de andar em torno da pessoa passando sua saia junto ao corpo do atendido, para apanhar os fluidos astrais e transformá-los. Enquanto mexe sua saia, pergunta o que o consulente deseja, mas na verdade, já trabalhou e está apenas ganhando tempo para um melhor atendimento. 

A Pombagira do Brejo


E sua missão de cura.

Essa importante, mas quase desconhecida Pombagira, trabalha na Linha de Nanã, com a energia de cura das águas dos lagos e pântanos. Em sua última experiência de vida, nasceu em 1630, na região de Estrasburgo, na Alemanha Ocidental; em plena Guerra dos Trinta Anos, onde vários países europeus guerreavam entre si por terras, poder e religião. Nesse período, a Alemanha viveu um de seus piores declínios.
Sua família era de origem nobre e seus pais eram importantes comerciantes judeus na época. O estado alemão confiscou seus bens, suas terras e seus filhos. Os meninos eram usados como soldados no campo de batalha e as meninas tornavam-se concubinas. 
Ela era uma bonita moça que foi transformada em concubina real e mais tarde em serviçal dos religiosos protestantes. Conheceu toda a revolta e a guerra cristã européia. Quando sua idade não lhe permitiu mais servir aos caprichos dos nobres, foi dispensada aos campos de batalha para limpar as feridas dos soldados e servir comida a eles.
Os lugares onde as guerras aconteciam tornavam-se atoleiros de brejos lamacentos, mal-cheirosos e friorentos. Ao trabalhar nesse local, viveu, desse modo, todos os horroros da guerra, em meio a chuva, ao frio e a fome.
Ao desencarnar, sua alma era dor pelos sofrimentos que viu e passou. Aceitou expurgar essa dor na falange das guardiãs dos locais de batalhas sangrentas (o brejo) e trabalhou como socorrista dos soldados mortos nos campos.
Hoje, ela trabalha socorrendo as vítimas de catrástofes naturais e também limpa a aura daqueles atingidos por magia negra. Essa é sua especialidade: limpar, purificar e curar. 

Oxalufan e a primeira Pombagira


Maria Madalena: a serva do Senhor e protetora dos excluídos.

Maria Madalena, a quem Jesus concedeu especial atenção e perdão, foi uma das mulheres presentes na ressureição de Cristo. Foi dado a ela, juntamente com Maria de Nazaré e uma terceira, também chamada Maria, provavelmente irmã de Lázaro, o direito de encontrar o sepulcro vazio. E por que as mulheres tiveram o privilégio de confirmar primeiro a ressureição de Jesus? Porque são as mulheres as geradoras da vida.
Maria Madalena acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; 11:26; Marcos 16:9). Madalena esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com a mãe de Jesus e outras mulheres (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25). No sábado após a crucificação, saiu do Calvário rumo a Jerusalém para poder comprar perfumes, a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume. Permaneceu na cidade durante todo o dia e "quando ainda estava escuro" foi ao sepulcro e achou-o vazio. As mulheres receberam de um Anjo a notícia de que Jesus havia ressuscitado e foi-lhes dito que deviam informar tal fato aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com João 20:11-18).
Como o nome Maria era muito comum na época, confunde-se muito sua história com a de outras Marias, inclusive com a Maria do apedrejamento e a Maria dos "sete demônios". De qualquer forma, estamos distantes dois mil anos dos acontecimentos, difícil será sabermos totalmente toda verdade. Hoje o que podemos relatar é o que os espíritos nos contame e o que aprendemos de geração a geração, através de manuscritos e livros.
Maria Madalena ou Maria de Magdala foi escolhida como protetora das Pombagiras por conhecer de perto a discriminação e o preconceito pelo qual passavam as mulheres diferentes da sociedade local. Por conta disso, dedicamos a ela essa postagem e a todas as pombagiras e servas legionárias de Maria, pois são elas que recolhem os espíritos combalidos e sofridos, depositados no Umbral das misérias humanas. Que Jesus se compadeça de nós, como se compadeceu de todas as Marias desse mundo...
 

Pombagira do Oriente


Uma Gueixa de muitas histórias...

Liu Siu, nasceu em um vilarejo remoto do litoral chinês. Seus pais eram pescadores e passavam por privações. Nessa época o país estava recrutando moças para tornarem-se gueixas e servirem aos homens da aristocracia, recepcionando os embaixadores e oficiais de outros países. Os pais de Liu Siu acharam que estavam fazendo o melhor pela filha ao dá-la para o governo em troca de provisões para a casa. Os meninos ajudariam o pai na pescaria e ela teria uma boa educação. Assim, com apenas 8 anos de idade, Liu Siu foi levada para uma escola de Gueixas.
Muitas meninas eram recrutadas para esse mesmo propósito e ao chegar a Xangai, Siu viu centenas delas pelas ruas. Chegaram a uma pensão-escola, onde as meninas eram selecionadas e separadas em pavilhões de acordo com a idade e aparência. Liu não era uma das moças mais bonitas da comunidade, mas possuía algo raro: o mar nos olhos. Na China, crianças que nascessem com olhos claros eram considerados descendentes dos turcos e mongóis, consquistados por Gengis Khan, portanto eram de uma classe de guerreiros. Liu Siu não sabia, mas seus avós eram mongóis.
As meninas realizavam serviços diversos e afazeres diários e, em troca, elas obtinham educação, comida e roupas. Para uma criança de 8 anos o serviço era puxado, mas as regras eram rígidas: se não fazia, não comia. E se desobedecesse: apanhava. Siu apanhou muitas vezes, não porque desobedeceu, mas  porque seu corpo era franzino e ela não conseguia dar conta dos serviços. Então, muitas vezes não recebia comida e em outras não podia dormir. Mas, ela cresceu. Os dias se arrastaram e ela completou 15 anos. Tornou-se uma moça muita bonita, que começou a atrair olhares cobiçosos e de inveja. Mas ela ainda achava que era uma moça feia.
Um dia Liu Siu foi mandada ao mercado e por ela passou uma baronesa que já havia sido gueixa. Perguntou onde ela morava e Siu muito timidamente contou. A baronesa seguiu com ela até a pensão e pagou por sua liberdade. Siu pensou que sua vida seria diferente a partir desse momento. Ela foi levada a um palácio onde lhe banharam, lhe assearam e lhe vestiram. Depois a baronesa conversou com ela e lhe falou que lhe ensinaria a se comportar como uma lady. Durante 6 meses Siu foi preparada e tornou-se uma moça prendada. Então, chegou o dia que a vestiram com as melhores roupas e lhe passaram os melhores perfumes. Quando ela estava pronta, foi levada ao aposento real. Siu descobriu seu destino: ela seria a concunbina do imperador!
Siu nunca questionou sua vida, sempre seguiu em frente, mas ela sonhava com o amor e com uma vida diferente. Apesar de ser uma moça tímida, ela observava tudo o que acontecia em seu país e não concordava com as maldades que os chineses impunham aos menos favorecidos das nações vizinhas. Seus antepassados falavam com ela e seu sentimento de guerreira começou a aflorar. Durante um ano ela foi o que havia sido preparada para ser: a concunbina do imperador. Mas, aos poucos, começou a ter aulas de inglês, de esgrima e de artes marciais. O imperador achava que era um capricho de uma moça pobre que queria ser rica. Mas dentro de Siu brotava um sentimento de liberdade...
Quando Siu completou 18 anos ela era uma excelente esgrimista e lutadora. Ela conseguiu permissão do imperador e começou a passear pelos arredores do palácio, sempre acompanhada por alguns serviçais. Aos poucos ela percebeu que muitos jovens se reuniam às escodindas tramando destronar o imperador e conquistar a liberdade para os escravos da monarquia. Um dia ela conseguiu ir a uma dessas reuniões. Saiu do palácio na calada da noite e entrou sem ser reconhecida. Viu o líder: um jovem forte e belo, que falava do direito de todas as pessoas de terem sua vida e sua liberdade. Siu apaixonou-se naquele momento. Nem sabia o que era isso, mas sabia que seguiria aquele jovem onde quer que ele fosse. Ele era um ninja guerreiro preparado pelos Monges Tibetanos, que sabiam da intenção do imperador em tomar o Tibet.
A partir daquele dia Siu começou a frequentar as reuniões, sem saber que com isso colocava sua vida e a do jovem em risco. Aos poucos começaram a perceber sua ausência no palácio e um dia a seguiram. Então, na reunião seguinte, cercaram o local e renderam a todos. O imperador aproximou-se de Siu e agracdeceu a ela. O jovem pensou que ela fosse uma espiã e a olhou com ódio. Nessa hora, Siu reuniu toda a sua coragem e colocou-se ao lado do rapaz. Disse que preferia morrer livre a ter que ver seu povo continuar a sofrer. A lei da China é dura com relação a traidores e Siu conheceu o preço que pagaria por sua traição.  O imperador mandou prender a todos, mas pediu tratamento especial a Siu e ao jovem.
Durante dias os dois foram torturados de muitas formas e depois foram levados à praça pública para a execução. Na frente de toda a população, os dois jovens estavam quase nus, sem cabelos e muito feridos. Dois algozes seguravam sua espada para decapitar os jovens. Siu havia descoberto o nome do rapaz: era Chao Pen. Enquanto esperava, ela lembrou de sua infância na praia, de sua adolescência roubada e de seus dias de princesa. Também lembrou do fogo da paixão que sentiu ao conhecer o anseio da liberdade. Olhou para o lado, para o jovem ajoelhado que seria morto como ela. Eles serviriam de exemplo a todos! Quando a espada desceu, Siu deixou uma lágrima escorrer. Estava com 19 anos, ela nada viveu, ela tudo viveu! Uma vida breve, cheia de aventuras. Mas, estava feliz, pois seria um exemplo a ser seguido.
A história da moça pobre que virou concunbina do imperador e que lutou pela liberdade dos tibetanos e dos pescadores, correu a China. Ela tornou-se um exemplo e muitas moças decidiram que seriam guerreiras como Liu Siu, para lutar pelo seu povo, contra a opressão de um imperador. Assim, a China iniciava uma nova história! E Siu uma nova jornada espiritual...

~ * ~ * ~ 燒  ~ * ~ * ~

Pombagira Lâmia


"Eu sou Pombagira de fé,
Metade cobra, metade mulher...
Derrubo qualquer feiticeiro,
Pois eu sou mulher de Lúcifer..."

Eu nasci e vivi na região da Lituânia do século XV, sob o reinado de Alput. Eu era descendente dos búlgaros romani - ciganos descendentes do Conde "Drácula". Vlad Tepes (o Empalador) era um governante sanguinário da Romênia e minha mãe possuía parentesco direto com sua linhagem. Nossa caravana viajava constantemente para evitar perseguições, devido a nossa herança ancestral.
Em nossa família, seguíamos as tradições dos antigos Balcãs (Otamanos) e sabíamos aplicar sortilégios e magias diversas em nossas peregrinações. Apesar de tudo isso, acreditávamos em Deus, Jesus e Maria, mas também acreditávamos nos nossos deuses nórdicos. Éramos perseguidos, justamente por sermos ciganos cristãos, pois os Otamanos eram mouros e a intolerância religiosa já ocorria naquela época.
Passamos a viver na região da Suécia e tivemos relativa paz, durante alguns anos. Eu casei-me com um descendente nórdico e tive dois filhos lindos - um menino e uma menina. Meu esposo era comerciante de peles, especiarias e tecidos diversos. Minha família prosseguia com o trabalho de comercialização de pedras preciosas e ouro.
Nossas comemorações eram festivas e alegres - comemorávamos tudo: colheitas, vendas, bons negócios, nascimento, casamento, entre outras festividades. Por isso, nem percebemos quando uma guerra iniciou e o estado começou a disputar interesses. Todos eram chamados a lutar e nós tentamos não tomar partido. Pensamos até mesmo em prosseguir viagem, mas nossos negócios estavam todos bem distribuídos na região.
Quando a disputa iniciou eu fiz algo que uma mulher naquela época não faria: agi politicamente. Eu era bonita e sedutora, então negociei nossa permanência e estabilidade com os governantes. Eu me envolvi (não tenho vergonha de falar) com cada um deles e usei minha magia para tê-los sob meus encantos. Assim, sem que quase ninguém soubesse, eu mantive nosso povo em liberdade e obtive a paz para nossa raça.
Eu fiquei grávida de um deles e sabia que essa criança poderia disputar a coroa, mesmo sendo um filho bastardo; mas, com isso, perderia meu esposo e o respeito de minha raça. Então, abandonei meu povo... Deixei meus filhos com o pai e segui para junto do governante. Aceitei sua proposta e fui viver com ele. O filho dele nasceu, um menino que herdaria o reino.
Eu não me tornei sua esposa, apenas uma concubina e serva do palácio. Mas, meu filho foi criado pelo rei e pela rainha, como filho legítimo. Eu senti saudades de minha antiga vida, de meu povo e de meu esposo. Mas, o que uma mulher não faz pelos seus? Eu fiz e não me arrependi...
Às vezes eu visitava o local do acampamento e ficava a sondar a distância para ver meus filhos. Meu esposo desposou outra cigana e teve mais filhos com ela. Paras eles eu era uma fugitiva. (...) Os anos passaram e meus filhos cresceram. O príncipe herdeiro (meu filho sem saber) tornou-se um rapaz nobre, bonito e inteligente. Ele deveria casar-se em breve para assumir o trono. Tudo o que eu planejara aconteceria... Porém, a vida nos prega peças e eu fui envolvida em uma delas.
O príncipe herdeiro escolheu uma jovem do povo para desposar. Dizem que ela era uma bonita filha de comerciante. Moça bem educada e de fino trato, foi aceita no palácio, mesmo não sendo da realeza. Eles estavam felizes com o noivado e já programavam a festividade do casamento. Foi quando eu a vi e algo me atravessou a alma. Era minha filha... Perante o Cristianismo eles não poderiam casar, mas de acordo com a Tradição dos Antigos Deuses, nada impediria.
Eu fiquei dividida, pois eles eram irmãos e somente eu sabia disso. De meu ventre haviam nascido dois herdeiros para o trono: um homem e uma mulher - dois irmãos. O que fazer? Permitir que eles se casassem e não interferir? Contar a um deles? Contar para meu ex-marido?
Nessa hora, rezei à antiga Deusa e pedi orientação. Ela, Brighit, que coabitara com seu irmão para dar um herdeiro à Terra, me entenderia... Senti que nada deveria fazer e deixei que as bodas acontecessem. Eles casaram e o casamento foi o maior acontecimento do reino. E eu assisti a tudo ocultamente. Meus dois filhos se casando e assumindo o comando do Reino!!! Que mãe não teria orgulho disso? Mas, eu fiquei mortificada e apreensiva. Nada fiz.
O tempo passou e logo ela estava grávida. Antes do nono mês, ela já se preparava para dar a luz e eu fui chamada para auxiliar no parto, junto com outras servas. Logo percebemos que ela teria duas crianças, pois o parto estava difícil. Porém, o pior estava por vir...
O parto estava muito complicado e não conseguíamos realizá-lo. O médico da realeza logo deu o diagnóstico: gêmeos siameses. Eu sabia o que isso significava: aconteceu porque eles eram irmãos. Mas, para a época isso era um sacrilégio e crianças assim eram consideradas aberrações. Eles seriam descartados como lixo. Eu não podia permitir... Eram meus netos. Então, mais uma vez agi contra o destino. Ofereci-me para levar as crianças. Decidi fugir com elas e criá-las. Eu já errara demais, não podia errar mais uma vez.
Antes de partir, procurei minha filha, enquanto estava em recuperação e contei-lhe toda a verdade. No começo ela apenas olhou-me e nada disse, mas depois gritou e exigiu que eu saísse de sua presença. Procurei também o pai dela (meu ex-marido), mostrei os gêmeos a ele e contei onde estive todos esses anos. Ele mostrou repulsa por mim...
Nada mais havendo a fazer, arrumei uma carroça com provisões para a viagem e deixei o reino com os bebês. Eu era responsável por eles. Na tradição da Antiga Deusa, gêmeos siameses eram venerados. Eu acreditava que eles tinham uma herança maldita, do antigo empalador e de tudo o que aconteceu... Mesmo assim, segui para a Noruega, levando-os comigo...
Durante o caminho encontrei uma caravana de saltimbancos e ajuntei-me a eles. Passei a me apresentar com eles, realizando números de mágicas e adivinhações. Eu também sabia usar cobras em meus números e isso cativava o público. Meus netos eram uma atração a parte... Dentro de uma jaula eles era observados pelos outros. A jaula era para protegê-los de qualquer barbárie. Alguns médicos e cientistas pediram para estudá-los e eles eram constantemente observados.
A Europa vivia um período de perseguições por conta do Catolicismo, mas a vida circense nos protegia, de certa forma, pois não representávamos perigo à Igreja. Mesmo afastada da vida na Suécia, eu pude acompanhar os últimos acontecimentos: Minha filha adoeceu e definhou... Saber a verdade de tudo não lhe fez bem e ela me culpou, com razão. Meu filho nunca soube de nada e casou-se novamente, dessa vez com a herdeira do reino vizinho (Dinamarca). Assim a "Escandinávia" permanecia unida. Meu ex-marido tornou-se uma pessoa amarga por causa de tudo o que aconteceu e por fim passou a beber até morrer.
Meus netos viveram 36 anos e eu vivi até os oitenta anos. Não casei mais, apenas cuidei de meus netos e vivi intensamente a vida circense. Tive alguns amores passageiros e só... Ao final de minha vida eu sabia manipular o veneno de quase todas as cobras e usava-os para curas diversas. Apesar de me chamarem de "A Feiticeira das Cobras", a Inquisição não me tocou, pois eu praticava a arte mágica como entretenimento e não era considerada um perigo à sociedade.
Após minha morte, descobri que meus netos foram dois irmãos gêmeos, que disputaram meu amor em outra vida. Como eles mataram-se por conta disso, nasceram "unidos" como siameses. Meu ex-marido foi meu filho e irmão de minha filha. Meu filho herdeiro fora meu esposo e acompanhou todo meu declínio. Por isso, nessa vida, ele foi afastado de mim. Meu outro filho, de quem quase não falei, foi uma pessoa normal e feliz. Ele tornou-se comerciante, casou, teve filhos e viveu honestamente no interior da Suécia.
Assim, foi que vivi essa vida: intensamente e com muitos acontecimentos. Quando eu descobri toda a minha história, após minha morte, resolvi buscar todos que fizeram parte dela. Procurei me apaziguar com eles e lutei pelo perdão de todos. A Espiritualidade Maior ofereceu-me a oportunidade de resgatar minhas dívidas através do trabalho mediúnico e tornei-me uma Pombagira. Assumi o nome de Lâmia, pois em minha cultura as "Lâmias" eram mulheres que sabiam seduzir e eram consideradas meio cobras e meio humanas.
Eu me sentia, muitas vezes, como uma das cobras que eu apresentava nos espetáculos: quieta, mas observadora. A cobra, em nossa cultura, representa a sabedoria e a sutileza feminina. E eu sabia como usar essa sutileza diariamente. Se eu me redimi de tudo só o tempo dirá, pois até hoje trabalho em busca de minha redenção.
 

Pombagira das Marés - duas histórias e uma vida

A Cabocla Jacy e o Caboclo Tupiniquim.

Ela foi retirada de sua família ainda criança; sequestrada por piratas que atracaram no arpoadouro de sua Terra Natal. Eles encantaram-se com a beleza da menina de longos cabelos negros e olhos cintilantes. Sua família nunca mais a viu ou ouviu falar dela. Na época, início do século XVII, ela tinha 15 anos e estava vendendo os frutos produzidos na propriedade de seus pais, junto ao cais do Porto de Marselha. Foi a última vez que viu a França e foi a última vez que soube o que é pureza... Não se jogou ao mar, pois era muito devota de Nossa Senhora, em todas as suas formas e aparições e acreditava em milagres.
Todas as noites rezava por alguma coisa que pudesse salvá-la desse destino. Ela era escrava sexual dos piratas, cozinheira, faxineira e realizava outras atividades que lhe eram impostas. Desde o dia em que foi retirada de sua terra, nunca mais falou ou sorriu ou derramou uma lágrima sequer. Apenas rezou todos os dias, pedindo a Deus clemência e misericórdia para seus dias cheios de dor e angústia. Quando faziam dois anos que estava a bordo do navio e já haviam viajado meio mundo; alguns piratas passaram a tratá-la com respeito e carinho e nunca mais a tocaram. Isso apazigou seu coração.
Então, um dia, eles aportaram em uma terra nova, diferente, cheia de pessoas mestiças, de pele escura, tatuadas, pintadas ou enfeitadas com penas de aves. Disseram a ela que essa terra era a América.
Ela se encantou com o lugar, com a natureza, com as pessoas, enfim, com tudo... Era diferente, colorido, fresco e, pela primeira vez, ela sorriu. Foi quando viu no meio das folhagens alguém a observando: era Tupiniquim, filho do Chefe Guaracy, dos Kaingangs. Ele sentiu em seu peito que Chefe Tupã o chamava para aquela moça e que ela era sua prometida. Observou durante o dia todo o movimento do navio e entendeu que ela era uma prisioneira, pois viu seus pés acorrentados. Sentiu seu coração triste e uma dor aguda congelou sua alma. Ele tinha que salvá-la!
Durante a noite, reuniu-se com seu pai, o Cacique da Tribo e narrou os fatos. Chefe Guaracy falou que índio não interferia em negociação de homem branco, ainda mais "aqueles homens" da bandeira negra do navio (piratas). Tupiniquim, não se amedrontou, reuniu seus amigos guerreiros e espreitou por mais um dia. Percebeu que, em determinados horários, ela ficava sozinha próximo a uma fogueira, preparando alimentos. Ele aproveitou essa distração dos piratas e avançou com seus amigos sobre a moça, agarrando-a e colocando-a sobre seus ombros. Saíram em disparada para as matas e levaram ela para a Oca da Mulheres, na Tribo Central. Os piratas nem viram o que aconteceu, pensaram que algum bicho selvagem pegou a moça. Tupiniquim explicou às índias que aquela moça era prisioneira do homem branco, mas não era como eles e pediu que a tratassem e a cuidassem.
Pela primeira vez, depois de tantos meses, ela sentiu que alguém a olhava como uma mulher e como uma igual. Deixou que a banhassem, que a trocassem e que a limpassem. Curaram suas feridas, lhe medicaram, lhe alimentaram, lhe acarinharam. Ela nunca havia chorado desde que saiu da França mas, naquele dia, todas as lágrimas saíram de seus olhos e ela chorou muito... Chorou de tristeza, de desespero, de medo, de raiva, de incompreensão e de insegurança. Apenas chorou, nada disse, mas as índias entenderam, pois desde que o homem branco havia chegado àquelas terras, elas já tinham ouvido falar de muitas histórias sobre sua selvageria. E ainda diziam que os índios eram os selvagens!
Ela esqueceu seu nome para sempre (Nádja) e aprendeu uma nova língua: o tupi-guarani. Chamaram-lhe de Jacy, por causa de seus cabelos longos e negros. Começou a ajudar as índias em seus afazeres e logo tornou-se uma delas. Estava feliz. Era livre... Pensou em seus pais e rezou a Deus por eles. De vez em quando, Tupiniquim lhe trazia uma flor, uma fruta ou uma pena de ave colorida e aos poucos eles foram se aproximando. Chefe Guaracy disse a Tupiniquim que ele deveria casar com uma índia e não com moça de outra raça, mas ele disse ao pai que seu coração já pertencia a ela, desde o dia em que a viu.
Quando fazia um ano que ela estava entre os índios, Tupiniquim lhe pediu em casamento. Ela teve medo, não era mais moça e sofreu muitos maus-tratos. Tupiniquim disse que não se importava e entendia tudo, ela não precisava falar nada. Ela aceitou. Chefe Guaracy celebrou a união junto com toda a Tribo e o Pagé Sagui. Foi uma festa! Todos os índios já gostavam de Jacy, pois ela uma moça boa e meiga. Eles só não entendiam porque ela olhava tantas vezes para o Céu e ajoelhava-se... Então, um dia, ela disse porque fazia isso: estava rezando para o seu Deus e Nossa Senhora. Explicou para os índios quem eles eram... Os índios falaram de Tupã, que era Deus, de M'Boi que era o filho dele e de Jacy, sua esposa... Falaram pra ela que ela parecia com Jacy e por isso recebeu esse nome. Então Nádja, entendeu que Nossa Senhora sempre cuidou dela, mesmo em outra nação, com outro idioma e com outra crença. E ela sentiu-se protegida e agradecida.
Jacy e Tupiniquim tiveram 8 filhos: quatro meninos e quatro meninas. Criaram todos livre e iguais. Com o tempo eles embrenharam-se mais nas matas para fugir do homem branco e das invasões. Jacy já era uma nativa indígena e esqueceu seu sangue europeu. Foi feliz nessa terra. Ela e Tupiniquim morreram abraçados na mesma rede, na Oca em que construíram. Já tinham dezesseis netos e dois bisnetos. Os índios diziam que eles eram almas prometidas e que os deuses os uniram no mesmo local.
Quando despertaram do outro lado, Tupiniquim tornou-se um Chefe Guerreiro que ajudou os falangeiros espirituais na luta contra a opressão e a escravização. Jacy (Nádja) foi convidada a trabalhar como falangeira socorrista de Maria Madalena, em nome de Nossa Senhora. Os dois atuariam em campos diferentes, mas poderiam sempre se ver e se auxiliar. Assim, temos Tupiniquim: um Caboclo Chefe de Direita, atuando na Linha de Oxóssi e Nádja, uma Pombagira da Linha das Águas, mas que pode, ocasionalmente, atuar na direita como Cabocla Jacy. Ela é uma entidade de dupla ação e dupla energia e pode trabalhar "cruzada", como falam nas giras.
 

Pombagira da Madrugada

Quem eu era e quem eu sou...

Essa é minha história, como eu vivi e como me tornei um Pombagira. Desde muito nova eu fui criada por minha madrinha - mulher de frios costumes cristãos, muito rígida e dissimulada. A sociedade a tratava como benfeitora, mas na verdade, ela usava seu nome e suas posses para acumular riqueza e destruir famílias. Com a promessa de fornecer uma boa educação às moças do interior, ela as batizava quando pequenas e depois as buscava para morar com ela. Mas, a realidade era bem diferente...
Eu fui uma dessas moças pobres, que a família acreditou na promessa de uma vida melhor. Quando ela me tirou da casa de meus pais para levar-me à capital parisiense, eu tinha 11 anos. A família receberia todo mês uma mesada para poder se manter em troca de minha permanência na capital. Recebi aulas de etiqueta, piano, música, artes, matemática e francês. Tornei-me uma moça recatada e de fino trato. Em dois anos eu era um exemplo de moçoila bem educada!
Ela me levou às melhores lojas e me vestiu com esmero. Depois fez um baile para apresentar-me à sociedade. Em minha "Festa de Debutante" haviam muitos homens e algumas mulheres de alcunha duvidosa. Fui apresentada à todos, sem perceber no começo do que se tratava. Ao final do baile ela anunciou o leilão de minha virgindade e depois minha venda ao Cabaré que melhor pagasse. Fiquei desesperada quando percebi a real intenção de tudo, tentei fugir, mas a casa era bem guardada.
O leilão aconteceu e pelo burburinho percebi que eu era "uma das peças mais valiosas de sua coleção". Pagaram muito bem pela minha primeira vez. Um senhor, ouvi dizer que era um senador, foi quem me arrematou. Ele me levou para o quarto e não tardou em fazer o serviço. Fui usada de muitas maneiras e não pude reagir. Depois de uma noite inteira de aproveitamento, o senador entregou-me para a Dona de um Cabaré famoso.
O tempo todo pensei em minha família e em como voltaria pra casa. Eles precisavam do dinheiro que recebiam, então me conformei com meu destino. Cada noite, um cliente diferente desfrutava de muitas horas comigo. Por um mês eu fui novidade e fui disputada. As outras meninas diziam que eu seria como elas: apenas mais uma depois disso.
Mas, algo dentro de mim se modificou e eu passei a lutar obstinadamente pela minha vida e tornei-me diferente. Passei a seduzir e aprendi todas as artes do prazer e da luxúria. Em pouco tempo eu sabia dar a um homem tudo o que ele desejasse e tornei-me uma das preferidas do Cabaré. Após um ano, eu não era mais uma menina, eu era uma mulher sedutora e confiante. Ganhei a confiança da dona e passei a treinar outras meninas. De onde eu sabia tudo aquilo e como havia aprendido? A resposta, provavelmente, estava em outras vidas...
Após dez anos eu acumulei uma fortuna, ajudei minha família, mas nunca mais fui visitá-los, pois eu não era mais a doce menina que saiu de casa. Comprei minha liberdade e montei meu próprio Cabaré. Porém, eu fiz diferente de minha "madrinha", eu buscava as moças pobres da região, mas lhes contava a verdade sobre sua situação. Pagava um bom dinheiro à família e as levava comigo, treinava-as e lhes ensinava como não sofrer... Se houvessem meninos dispostos a ir comigo, eles se tornavam serviçais ou também podiam trabalhar na arte da sedução. Afinal, haviam mulheres dispostas a pagar muito bem por prazer.
Um dia visitei de forma disfarçada a minha madrinha, para agradecer-lhe o que fez por mim. Levei comigo cicuta e antes de sair despejei o veneno em seu chá... No outro dia eu soube que ela falecera durante a noite de mal súbito. Eu estava vingada! Não poderia ter minha antiga vida, mas ela não poderia ferir mais nenhuma menina. Esse ato, porém, não me deu paz de espírito. Eu não poderia voltar a ser a mesma pessoa, mas quem eu era, também não me deixava feliz...
Trabalhei por mais dois anos; treinei muitas meninas e escolhi uma para assumir meu lugar. Então, preparei-me para sair em viagem e fui conhecer o mundo. Eu descobri que estava com tuberculose e não teria muito tempo de vida. Minha viagem seria uma despedida de tudo. Consegui viajar por seis meses e quando estava na Índia, visitei um mosteiro... Procurei um monge e contei-lhe minha história. Ele me falou da reencarnação, do perdão e de uma nova chance. Ele me contou muitas histórias de santos e deu exemplos de grandes líderes que se transformaram.
Ele me convidou a pernoitar no mosteiro e eu morri ali, em paz, numa paz que há muito tempo eu não sentia! Quando cheguei ao outro lado eu fui recebida por outras moças com situação semelhante a minha e fui convidada a trabalhar com elas. Fui treinada e recebi uma roupagem fluídica, com um nome e uma missão: recolher as almas de outras moças perdidas. Assim tornei-me uma Pombagira e passei a trabalhar no Plano Espiritual. Foi uma forma de quitar minha dívida por tirar uma vida humana e de encontrar minha redenção pessoal.

Pombagira Cigana das Rosas

A Senhora das Flores"!

Essa cigana perdeu-se do seu Povo ainda menina, quando eles passavam pela cidade de Marselha. No porto pararam para fazer uma apresentação e comprar iguarias, enquanto houve uma invasão dos saxões. Na confusão que se seguiu, ela perdeu-se e foi levada por uma senhora que morava nas cercanias da cidade. Seus pais lhe procuraram por dias, mas de nada adiantou.
Essa senhora, morava sozinha e cultivava rosas. Queria muito ter uma filha e aquela criança foi seu raio de sol. Com o tempo a menina deixou de sentir a falta de seus pais e afeiçou-se àquela senhora. Cresceu e tornou-se uma linda jovem, que atraía sempre os olhares de todos ao vender as rosas no porto. Todos a chamavam de "A Menina das Rosas". A senhora e ela eram muito felizes e ela nem lembrava mais que havia se perdido de seus pais verdadeiros.
Um dia houve uma invasão de saqueadores na cidade e ao chegar ao sítio, "A Menina das Rosas" encontrou tudo arrasado e sua senhora estava caída ao chão sem vida. Os carrascos ainda estavam nas imediações do sítio e ao avistarem a menina-moça, se acercaram dela e a capturaram, usando-a para se satisfazerem. Depois de muitos dias sendo mantida em cativeiro, conseguiu fugir de seus algozes, mas já não estava mais em Marselha e não reconhecia o local onde se encontrava. Não tinha rosas para vender e não sabia como sobreviver.
Precisou trabalhar em uma estalagem em troca de comida e pouso, mas a condição era servir aos fregueses como eles desejassem. Essa não era a vida que ela desejava. Então, quando conseguiu juntar um dinheiro, fugiu e tentou voltar ao Porto de Marselha. Lá poderia cultivar e vender suas rosas. Ela conseguiu retornar, mas a cidade não era mais a mesma, nem ela era a mesma pessoa. O sítio estava ocupado por desconhecidos e ela não tinha como provar que era a proprietária.
Novamente ela vendeu seu corpo e se sentiu triste por isso. Queria muito voltar a vender rosas. Então, ouviu falar de uma província chamada Provença, onde se cultivavam ervas aromáticas e flores diversas. Ela se dirigiu para lá e andando um pouco a pé e um pouco de carona, conseguiu chegar ao local desejado. Procurou emprego nas fazendas de flores da região e conseguiu se tornar uma coletora. Todos os dias levantava-se muito cedo, tomava seu café e se dirigia ao campo para coletar as flores e ervas diversas. Essa rotina durou mais de vinte anos e foi feliz assim. Nunca se casou e nunca se enamorou. Viveu só, como a sua senhora. Era querida por todos, pois sempre sorria e conversava com respeito. Morreu aos 43 anos de tuberculose - doença que adquiriu do pólen das flores e do ar gelado das estações frias. Seu nome ela nunca revelou, pois gostava de ser a "Menina das Rosas" e depois se tornou a "Senhora das Flores" para os trabalhadores da fazenda. Essa foi sua história e apesar de tudo o que passou, nunca deixou de sorrir e de tratar bem a todos que a cercavam.


Pombagira Cigana das Encruzilhadas

"Vinha caminhando a pé, para ver se encontrava a minha Cigana de fé.
Ela parou e leu minha mão e disse-me toda a verdade... E eu só queria saber onde mora: Pombagira Cigana de fé!"

Essa Pombagira Cigana possui uma história bastante peculiar de solidão e sofrimento. Nasceu na Baviera (Bayern - popularmente conhecida por Bavária), uma das maiores regiões da Alemanha. Seu nascimeno foi muito festejado por seus pais, que pertenciam a religião pagã dos Celtas - o Druidismo. Ela seria uma sacerdotisa (druidesa) e desde muito cedo aprendeu a arte de curar, os nomes das ervas e a interpretar os sinais da natureza. Aos doze anos era uma linda menina que conhecia muito de sua antiga religião.
Nessa época a Inquição fazia incursões pela Europa caçando "bruxas" e antigos seguidores das religiões ancestrais. Seus pais sempre mantinham tudo muito bem guardado e escondido num porão. Mas, alguém os delatou e a Inquisação bateu em sua porta. Seus pais foram presos, julgados e condenados. Seu irmão foi degolado ali mesmo. E ela, por ser menina, foi preservada e levada até a Itália, para ser a serva de um importante Bispo. Durante um ano tentou em vão escapar. Quando a oportunidade surgiu, ela apunhalou seu captor e conseguiu fugir. Foi ajudada por um guarda em troca de favores sexuais.
Atravessou a Itália, com a intenção de retornar à Alemanha, mas quando soube das Guerras que por lá estavam acontecendo, decidiu ir para a França. Já estava com 17 anos e toda a sua inocência havia se perdido. Agora conhecia a realidade da vida e a crueldade do homem. Sobreviveu na travessia, escondendo-se pela estrada, viajando a noite e trocando favores como podia.  Ela chegou ao sul da França em 1728 e se instalou numa choupana abandonada próximo a um vilarejo. Com o tempo, começou a praticar sua antiga religião e começou a ser procurada por aqueles que precisavam de ajuda. Ganhou a confiança do vilarejo e pode viver tranquilamente por vinte anos. Nunca quis casar, porque ainda lembrava os maus tratos que sofreu, quando menina, nas mãos de seu captor.
Porém, a Inquisição voltou a encontrá-la e dessa vez não escapou. Foi presa, julgada e condenada por prática de bruxaria. Torturam-na e enforcaram-na numa encruzilhada da vila. Muitos no vilarejo também foram mortos. Durante algum tempo seu espírito vagou querendo vingança e perseguindo aqueles que a condenaram. Quando foi recolhida à Aruanda compreendeu sua história e relembrou sua missão de vida. Foi convidada a ficar e a trabalhar; poderia usar todo o seu conhecimento ancestral e auxiliar a quem necessitasse. Assim, tornou-se a Pombagira Cigana das Sete Encruzilhadas, porque seu espírito viajou muito e conheceu muitas estradas...

Pombagira Maria Padilha das Trevas

Ela nasceu numa época em que a Terra era dominada por guerras e disputas, na região de Mansur - um antigo vilarego da Galícia, e que já não existe mais... Servínia era uma simples camponesa da religião pagã, que servia ao deus Cernunos e a deusa Brigithe. Era o começo do século I e ela conheceu um homem forte e alto que era chamado de Thiago, o Grande, por seus companheiros. Ele falava de um Homem que passou pela Terra e foi crucificado em uma cruz por um crime que não cometeu. Falou dos milagres que esse Homem fazia e disse que Ele podia modificar a vida das pessoas. Servínia ficava observando aqueles homens diferentes. Todos os dias, esses homens reuniam as pessoas do vilarejo e contavam histórias maravilhosas desse Homem que fazia milagres. Servínia, estava com 14 anos e começou a sentir vontade de conhecer pessoalmente esse Homem, chamado Jesus e sua Mãe, chamada Maria. Seus deuses estavam longe e os homens de sua terra eram cada vez mais cruéis. Como seus pais estavam em idade avançada, ela temia por si e pelos seus irmãos.
Um dia, esse tal de Thiago, partiu juntamente com seus discípulos e nunca mais voltou. Sua terra foi invadida por mouros, foi saqueada e muitos foram mortos. Aqueles que não morreram, foram escravizados ou vendidos. Ela foi levada como escrava para o harém particular de um famoso Sheik; pois era uma moça de uma beleza única. Servínia tornou-se escrava sexual e sua vida passou a ser a mesma todos os dias. Ela comparava sua vida com as folhas de uma árvore em época de outono. Muitas vezes, desanimou... E muitas vezes relembrou de Cernunos e Brigithe, seus deuses pagãos. Mas, também relembrou das histórias de um homem chamado Thiago, o Grande, sobre Jesus e Maria... Tudo isso aquietava seu coração e acalmava seu desejo de suicídio, pois ela lembrava que nas histórias de Thiago ele sempre repetia que a vida era sagrada para Deus. Quando faziam dez anos que Servínia estava sob o domínio dos mouros, eles foram atacados pelos visigodos e todos pereceram a golpe de espada, inclusive ela. Em seu último suspiro, Servínia clamou por Cernunos, por Brigithe, por Jesus e por Maria, pedindo que tivessem piedade de sua alma. Seu espírito entrou em uma esfera de luz branca e foi recolhido em um local para tratamento...
Um longo tempo depois ela reencarnou na região da Península Ibérica, no país de Gales, como filha dos Duques de uma das regiões. Seu nome era Rosácea e sua vida era cheia de privilégios. Seus pais eram muito Cristãos, pois nessa época o Cristianismo já dominava a Europa e era aceito por muitos. Corria pela Europa a história de um monge chamado Pelayo, que descobriu os restos mortais do apóstolo Thiago o Maior e para confirmar o achado havia avistado um campus stellae (Campos de Estrela) - mais tarde chamado de "Compostela". Assim iniciou-se a trajetória do caminho de São Thiago de Compostela. Rosácea ao ouvir essas histórias sentia-se atraída, sem saber explicar porquê... Quando falavam dos pagãos, dos druídas e das bruxas, ela também se sentia afeiçoada a eles, mas guardava tudo isso consigo. Rosácea morreu cedo nessa vida, pois adquiriu tuberculose e ninguém conseguiu curá-la.
Tempos depois ela reencarnou novamente, dessa vez na Turquia, entre os Islamitas, como filha de um Sheik muçulmano. Era a época das Cruzadas e seu coração não entendia o sentido dessa guerra. Ela queria muito entender porque os homens guerreavam entre si. Seu nome de batismo no Islão era Medina. Um dia quando foi ao poço da região dos acampados para colher água, ela foi surpreendida por um soldado ferido cristão. Num primeiro momento assustou-se, mas depois, deu-lhe água e carregou-o para uma caverna nas proximidades. Deixou-o lá descansando. Então, todos os dias, visitava-o, leva-lhe água, alimentos e unguento para passar nos ferimentos. Com o tempo, os dois apaixonaram-se e começaram a entender-se. Felipe, esse era o nome do soldado, convidou Medina para fugirem juntos para outras regiões, longe de toda essa guerra e disputa. Ela preparou tudo e combinaram o dia da fuga, mas o pai de Medina os surpreendeu e mandou que seus soldados prendessem e matassem Felipe. Medina, como castigo pela sua traição, foi vendida para um Fakir da Arábia Saudita, onde se tornou odalisca de seu harém. Medina, dessa vez não aguentou o golpe e suicidou-se com veneno de cicuta.
Seu espírito vagou por muitos anos pelo Umbral e ela despertou em um Reino desconhecido, chamado Aruanda. Estava maltratada, sofrida e desacreditada. Quem lhe atendeu foi um senhor negro que lhe disse apenas: sou um "preto-velho"... Ela foi cuidada, acarinhada e aos poucos recuperou-se. Ela assistiu toda a sua história de vida e descobriu porque passou por tantas provações. "Ela já havia sido homem no Antigo Egito e ocupado cargos de Ministro e Faraó em muitas vidas. Ele (ela) sempre abusava do poder e usava favores sexuais de suas escravas, que eram tiradas de suas famílias e trazidas de terras distantes. Como Faraó era vingativo e cruel com seus comandados e sempre castigava quem não lhe obedecia." Quando ela terminou de observar tudo, entendeu o que aconteceu, mas havia o crime de ter tirado a própria vida.
Então, o preto-velho lhe falou: " Nós, aqui da Colônia Aruanda, temos uma proposta a lhe fazer, desde que você aceite, não precisará reencarnar, mas terá que trabalhar muito! Seu trabalho será resgatar todas as pessoas, que assim como você, cairam em desgraça, por ódio, por sexualidade desequilibrada, por ganância, ou por qualquer vício terrreno. Você também trabalhará numa nova religião que surgirá numa terra que se chama Brasil: a Umbanda. Caso você aceite, será preparada para esse trabalho imediatamente e passará a atuar na faixa vibratória negativa inferior: o Umbral - acolhendo, encaminhando, instruindo e orientando. Mas, essa tarefa, você realizará como espírito feminino, pois seu lado masculino está apagado há muito tempo..." Ela consentiu com a cabeça e foi encaminhada para a sala de aula. Após o estudo, o preto-velho lhe tocou a fronte e ela transfigurou-se em uma mulher de rara beleza e ele disse: "Seu nome será Pombagira Maria Padilha das Trevas Absolutas. "Pombagira" porque em yorubá significa ser da dualidade; "Maria" por causa de nossa Protetora Maior; "Padilha" devido a espadilha - espada - guerreira; "das Trevas" para relembrar toda a obscuridade de nossa alma até alcançar a luz; e "Absolutas" porque você conhece muito do mundo e jamais deve esquecer que há um Ser Maior e Absoluto Acima de Nós. Agora vá e cumpra sua missão com dignidade!"


sábado, 26 de novembro de 2016

Pombagira Feiticeira

Ela é mandingueira!

Essa Pombagira de nome Loruel teve três vidas importantes como "feiticeira". Sua última encarnação foi no Sul da África, no século XVI. Antes de prosseguir com seu relato vamos diferenciar bruxa de feiticeira. As bruxas sempre pertencem a um clã ou coven, sempre trabalharam em grupos e sempre seguem regras específicas para os rituais. A maioria das bruxas possuem residência fixa. As feiticeiras, ao contrário, trabalham sozinhas, não seguem regras e não pertencem a qualquer grupo. São andantes e gostam de pertencer ao mundo.
Na sua primeira encarnação como feiticeira ela viveu no sul da Itália entre 983 e 1037. Praticava livremente a magia, usava seu conhecimento das ervas e de feitaçaria para realizar diversos rituais, onde atendia aos vilarejos próximos de sua morada. Mesmo tendo uma residência fixa, viajava a lugares diferentes, ausentando-se por dias... Essa vida foi tranquila, sem maiores acontecimentos. Morreu aos 54 anos de problemas cardíacos.
Sua próxima existência aconteceu na Grécia, entre 1360 e 1408. Essa foi a vida mais importante para ela, pois conheceu seu verdadeiro amor e isso a fez deixar de lado a prática da magia nos últimos anos de vida. Casou, teve filhos e foi feliz pelo tempo que a vida lhe permitiu. Desencarnou aos 48 anos em decorrência de um derrame.
Sua última encarnação como feiticeira, ocorreu entre 1537 e 1601. Essa vida ela considera a mais difícil e com maior aprendizagem, pois foi onde ela atendeu o maior número de pessoas e tribos africanas e também onde conheceu a crueldade do homem. Loruel costumava viajar por todo o sul africano, onde espanhóis, portugueses e franceses disputavam terras. Muitos negros morreram, muitos foram escravizados e muitas tribos se perderam. A tudo ela presenciava, sem nada poder fazer. Quando seus irmãos estavam doentes ela socorria. Nessa vida ela se dedicou somente a isso: a socorrer todos os que eram feridos pelo homem branco ou infectados por suas doenças. Ela foi violentada diversas vezes, mas em todas elas sobreviveu e escapou. Viveu o bastante para perceber que o mundo estava vivendo muitas transformações e que os povos da terra estavam se misturando. Morreu no alto de uma montanha observando o mar, em decorrência de uma infecção. Estava velha, sozinha e triste porque sua África nunca mais seria a mesma!
Loruel desencarnou nessa última vez e foi recolhida à Colônia de Jurema. Estudou, aprendeu e evoluiu. Tornou-se uma trabalhadora espiritual. Reencontrou seu companheiro de jornada, mas eles tinham caminhos diferentes para seguir. Hoje ela é uma Pombagira e ele é um Exu. Trabalham na Lei Maior da Umbanda servindo ao próximo com amor e dedicação.

"Feiticeira é, feiticeira a... Vem feiticeira, vem trabalhar.
Pombagira ela é, Pombagira tem que ser, Pombagira Feiticeira tem seu poder.
Na mandiga ela cruza e descruza o que quiser, feiticeira ela pode, feiticeira ela é."
 

Pombagira Maria Mulambo das Almas

Uma lição de vida única!

A sua história foi a mais triste que eu ouvi. E nunca mais esqueci. Eu a conheci entre os anos de 1993/1994 e essa data mudaria minha vida pra sempre...
Ela era filha de um fazendeiro muito rico. Seu pai era tido na época como o Rei do Café. Uma moça bonita e prometida em casamento, mas apaixonou-se por um dos peões da fazenda. Amaram-se, entregaram-se e viveram esse amor. Ela fugiu com ele. Seu pai os perseguiu. Mudaram-se muitas vezes, mas não foi possível esconder-se pra sempre. O pai possuía dinheiro e sede de vingança. Contratou capangas, que os acharam... Violentaram-na muitas vezes, mataram o peão vagarosamente e cruelmente na sua frente. Ela estava grávida e perdeu o filho. Acordou horas depois em um cemitério. Pensou em se matar, mas acreditava em Deus e não podia tirar a própria vida. Precisava sobreviver... Procurou emprego, mas não lhe deram. Procurou um prostíbulo, mas não a aceitaram, pois seu estado estava deplorável. Teve que mendigar para comer... Sobreviveu a custa de muita dor e sofrimento, lembrando todos os dias de seu amado e de seu filho. Viveu dez anos dessa maneira... A única coisa de bom que possía eram seus dentes saudáveis que vendeu um a um para sobreviver. Quando já não possuía mais forças para lutar uma senhora bondosa lhe ofereceu abrigo, mas já estava doente, debilitada e enfraquecida. Sobreviveu umas poucas semanas e morreu.
Ao chegar do outro lado foi recebida no Hospital Espiritual de Maria... Viu o trabalho dos socorristas e quis ajudar. Quis entender o que lhe aconteceu. Descobriu que seu pai já havia sido seu marido numa vida anterior e que a mantinha trancada. Não guardou mágoas ou rancor... Apenas quis seguir trabalhando no Plano Espiritual. Pediu a Providência Divina que a aceitasse como falangeira para atender aos mendigos e desvalidos, às mulheres que amaram e sofreram, aos que vivem a dor da solidão. E é assim que ela trabalha...
Quando a conheci ela me disse uma frase que eu nunca mais esqueci: "Nunca diga que pior do que está não pode ficar, porque às vezes piora e não sabemos porquê... Mas, é preciso aceitar o fardo e seguir." Na época eu não entendi essa recomendação e me senti frustado. Tempos depois sofri um acidente grave que mudou minha vida pra sempre! Eu não tive sequelas físicas, somente espirituais... É por causa dela que hoje eu cumpro minha missão, porque lembro de sua recomendação e de sua história! Muitas vezes me parece que as coisas pioram, para depois melhorar...

Achei que a imagem abaixo é a que melhor descreve sua dor e sua aparência...
Retirei do seguinte endereço: http://www.fotolog.com/taty_ntl/53038680

Pombagira Maria Padilha das Sete Encruzilhadas

A história de uma rainha!

Ela sempre foi discreta em suas incorporações... Compenetrada e objetiva em suas respostas. Sempre olhou firmemente nos olhos das pessoas, explicando detalhadamente a situação. Nunca omitiu a verdade. Ela canta seu ponto e explica sua história: "Maria Padilha vem na Linha do Cemitério, Maria Padilha vem na Linha do Cemitério, ela não ri, ela não ri, ela sempre fala sério! Ela não ri, ela não ri, ela sempre fala sério." (...) Possui muitos filhos para resgatar. Ama a todos e não quer perder nenhum. Enquanto não vê-los sãos e salvos não deixará de trabalhar e escolheu a Calunga para isso. Ela é guardiã dos mistérios femininos.
Aprendi a respeitar essa senhora. Ela me ensinou que Pombagira é um dos mistérios da Umbanda Sagrada e que conhecemos muito pouco sobre o trabalho que elas realizam abnegadamente nas regiões umbralinas. São socorristas e mensageiras de nossa Mãe Maria. Trabalham resgatando os espíritos mais corrompidos da esfera terrestre. As pombagiras vão aonde ninguém mais vai: no mais baixo umbral! E com amor e abnegação recuperam um ser extraviado de sua família. Usam a aparência sedutora para auxiliar no resgate... Não se vestem de "anjos" para não assustar o socorrido. Assim, caminham pelas esferas umbralinas sem chamarem a atenção. Como mulheres "mundanas" podem passar despercebidas pelos seres umbralinos e são aceitas com menor desconfiança pelo resgatado.
Essa Maria Padilha viveu muitas vidas na Terra, mas transformou-se totalmente quando conheceu Jesus... Disse que pertenceu à falange das mulheres que trabalham com Maria Madalena e se sentiu amada e acolhida no amor de Cristo. Nunca mais quis deixar de serví-Lo! Cumpre sua missão com amor abnegado. Ela diz que pode contar que viveu também no século III (em Roma) e vivenciou toda a história cristã em sua vida, juntamente com outras pessoas perseguidas pelo Império. Morreu em uma Arena, por se recusar a seguir as ordens dadas pelo Imperador.

Pombagira Sete Ossos da Calunga

Guardiã do Sétimo Portão das Almas!

Essa guerreira foi uma Amazona da Tribo dos Sármatas e viveu no século V a.C. Era filha da princesa de sua tribo, com um soldado de Tróia. Foi treinada desde cedo para as batalhas. Manejava habilmente o arco e a flecha, a lança e a espada. Era uma campeã em provas de lançamentos de dardos e equitação. Seu nome era Sévera.
A religião do seu povo era o paganismo, voltada ao xamanismo, com o culto de todos os símbolos da natureza. Sua raça originou os povos euro-asiáticos e sua crença se tornou a base do druidismo e do xamanismo oriental. Nas guerras, o inimigo era tratado com respeito e lutavam apenas pela sobrevivência de sua aldeia e de seus costumes. Jamais matavam por prazer ou desprezo. A morte para eles era uma passagem a uma nova dimensão e respeitavam isso em todos os momentos.
Aos 21 anos de idade, Sévera foi designada para lutar contra os hunos, em defesa de suas terras. Os hunos eram bárbaros que saqueavam as tribos na tentativa de expandir o seu território. Ela conseguiu, juntamente com as demais guerreiras e auxiliares de guerra, afastar a invasão de suas terras. Anos mais tarde, os hunos novamente levantaram-se contra os Sármatas e, dessa vez, Sévera tombou em combate, aos 28 anos de idade, mas sua nação ainda permaneceu intacta.
Sévera ocupa hoje um dos Sete Portões da Calunga Maior (o Portal da Morte). É uma dedicada guardiã que trabalha na Linha das Almas, para o Senhor Omulu e a Senhora Oyá. Cuida dos espíritos que tombam em combates da vida moderna, como: acidentes, desastres, catástrofes, entre outros. Ao olhar sua imagem não vemos uma pombagira comum, pois ela se veste como os Exus do Cemitério...

Pombagira Menina

Apenas uma menina que perdeu sua inocência...

Essa menina doce e meiga, de olhar oriental, nasceu em Myanmar (Birmânia), no sul da Ásia, no ano de 1838 - na época uma colônia britânica. Em sua tribo as mulheres não alongavam os pescoços com colares (como na Tribo das Mulheres Girafas), apenas tatuavam a pele quando eram prometidas em casamento para mostrar o compromisso e usavam uma pesada tornozeleira. No seu país todos os nativos eram budistas. Seu nome aqui no Brasil seria algo assim como "Swang Pi".
Aos nove anos, foi vendida por seus pais a um grupo se soldados britânicos. Eles pensaram que a vida dela seria melhor em outro país, onde ela teria maiores oportunidades. Mas, ela foi comprada para serví-los de todas as formas. Então desde cedo, juntou-se a outras meninas que se tornaram escravas sexuais de seus tutores. Além de cozinhar, lavar e servir, elas deviam manter-se asseadas e bonitas, pois quando eram procuradas deviam estar dispostas a serví-los bem. Foi assim, que com apenas doze anos de idade, Swang já conhecia o mundo dos adultos. Para fugir dessa realidade aprendeu a consumir bebidas e a usar a pinang - uma espécie de planta misturada ao tabaco - que servia como estimulante. Aos treze anos toda a sua noção de vida real havia se perdido e ela vivia entre a bebida, a droga e o sexo. Desencarnou antes de completar quatorze anos, tendo ataques epiléticos, por conta de uma mistura de bebida, noz de areca e outros alucinógenos.
Acordou no Plano Espiritual, em meio a espíritos sofridos, sem saber o que lhe havia acontecido. Uma avó que lhe amava muito lhe socorreu e levou-a a um hospital espiritual. Quando recuperou sua memória e sua decência, quis entender sua trajetória de vida. Pediu para trabalhar com meninas, que assim como ela, perderam toda a inocência antes da puberdade. A partir de então ela passou a visitar diversos lugares no mundo inteiro, onde haviam meninas que passavam pela mesma situação que a sua. Veio parar no Nordeste brasileiro e conheceu as meninas que também se tornavam escravas sexuais desde cedo. Pediu para ficar nesta terra e fazer parte de um novo trabalho. Conheceu a Seara do Caboclo Sete Encruzilhadas e percebeu que poderia ajudar sem ser julgada ou condenada. Poderia ser ela mesma e simplesmente trabalhar... Assim como ela existem outras meninas com suas histórias de dor e sofrimento e que também trabalham como Pombagiras Meninas na Umbanda Sagrada.

Pombagira Maria Quitéria das Almas

A Sedutora do Reino da Magia!

Essa pombagira nasceu em 1624 no Reino de Portugal, em Lisboa. Como toda portuguesa, ela recebeu o primeiro nome de Maria e o segundo nome de Quitéria, em homenagem a Santa portuguesa. Ela foi criada por sua avó materna, pois sua mãe era viúva e enamorou-se do imediato de um navio mercante, seguindo com ele em viagem. Sua avó sabia a arte da cura pelo benzimento e pelas ervas e lhe passou todo esse conhecimento. Ela também recebeu o conhecimento ancestral do Povo Rom, da linhagem cigana, por parte de seu avô materno.
Assim, Maria cresceu, tornou-se uma moça bela e instruída nas artes do ocultismo. Quando ela completou 17 anos sua avó faleceu de complicações diversas recorrentes de problemas respiratórios. Então, Maria decidiu vender o que restou na casa e seguiu viagem para a Terra Nova, Brasil. Ao chegar ao Rio de Janeiro, descobriu que as coisas não seriam tão fáceis como ela pensou. Conseguiu emprego em uma estalagem, como arrumadeira, cozinheira e serviçal. Trabalhou um ano até conhecer seu futuro marido (José), que a tirou do trabalho e a levou para morar com ele no interior de Minas Gerais.
Com 19 anos Maria teve seu primeiro filho na fazenda onde seu esposo trabalhava como capataz. Maria era uma moça prendada e sabia cuidar da casa e do marido com muito carinho e isso despertou olhares cobiçosos de outros jagunços da fazenda. Passaram dois anos de harmonia e paz, até que um dia José chegou em casa e encontrou Maria desacordada nos braços de outro. Ele não pensou duas vezes, matou-a com 7 tiros e atirou contra seu companheiro que fugiu porta afora. A criança foi entregue aos cuidados de uma família da fazenda.
José viveu muitos anos infeliz e sem ninguém. Queria muito saber porque Maria fizera aquilo com ele. Maria vagou após sua morte por muitos anos... Um dia, passava José por uma mercearia a caminho da fazenda e parou pra beber uns tragos. Enquanto bebia viu que chegou um homem conhecido. José reconheceu o farsante que desgraçou sua vida e foi pra cima dele, ameaçando-o. Estava para puxar o gatilho quando o homem pediu misericórdia em troca de dizer-lhe a verdade.
José esperou e o jagunço contou a seguinte história: "Ele procurou Maria algumas vezes pedindo ajuda para sua mãe que não passava bem. Então, Maria lhe preparou uma garrafada com várias ervas e lhe instruiu como tratar de sua mãe. Mas, alertou-o que o remédio causava um forte sono e por isso devia ser tomado somente a noite. No dia da tragédia ele pediu ajuda a Maria novamente, dessa vez dizendo que ele não se sentia bem.
Maria serviu o chá aos dois e tomou-o para acompanhá-lo, mas não percebeu que o jagunço havia acrescentado ao chá o preparado. Ela sentiu diferença no gosto, mas não levou em consideração. Quando ela sentiu sonolência, pediu ao jagunço licença, ele saiu e ela foi se deitar. Ele esperou até que ela dormisse e foi ter com ela... Maria até que começou a acordar, mas ele trancou sua respiração e ela desmaiou. Então, ele aproveitou fazer o que desejava... Foi quando José chegou e ocorreu o fato."
José ao ouvir essa história ficou desconsolado. Então, sua Maria era inocente! José não pensou duas vezes, levou o jagunço pra fora do armazém e lhe deu três tiros na cabeça. Depois desse crime, José evadiu-se de Minas Gerais e nunca mais foi visto. Maria, por sua vez, foi recolhida ao plano espiritual e pode enfim descansar. Após o tratamento e o refazimento, Maria passou a trabalhar na Linha das Almas, na Falange "Maria Quitéria". Maria sempre gostou da história de Santa Quitéria, porque assim como a sua, era uma história de dor, desejo e traição.

Exu Sete Capas da Jurema e Pombagira Rainha das Matas

Dois caminhos que se cruzaram e formaram uma só história.

Eles viveram no século XV, em meio ao caos da Inquisição e da Perseguição a todos aqueles que professassem uma religião ancestral. Ele era um soldado da Coroa Espanhola e trabalhava a serviço dos Inquisidores Negros. Ela era uma aprendiz da religião da Grande Deusa. Ele viajava muito para capturar os "traidores" da Coroa. Ela morava no norte da Irlanda, onde ainda se preservavam os costumes da religião pagã.
Quando ele passou pelo vilarejo a viu e trocaram olhares. Ela não sabia quem era aquele soldado ou o que ele fazia; muito menos ele desconfiou das suas tradições. Estavam apenas de passagem procurando vestígios da Antiga Religião e cúmplices dos rituais pagãos. Pernoitaram em uma pousada no vilarejo. Ela era a serviçal do local e o serviu durante todo o tempo em que ele esteve hospedado.
Dois dias depois, o regimento seguiu viagem para percorrer todo o território; mas, voltaram em alguns meses. Então, reencontraram-se e dessa vez decidiram estar juntos. Enquanto seu regimento seguiu viagem, ele ficou no Vilarejo por mais duas semanas. Conheceu os familiares dela e assumiram compromisso. Depois retornou à Espanha, para prosseguir com seu trabalho. Todo soldado da Inquisição trabalhava em sigilo, por isso ela não soube o que ele fazia. Os aldeões também guardavam segredo sobre suas práticas por medo de represálias.
Assim, eles assumiram um compromisso que estava entremeado ao destino de cada um... De seis em seis meses ele retornava ao Vilarejo para visitá-la. Marcaram as festividades para o casamento, que se realizaria dentro de um ano, pois ela ainda era menina-moça e ele precisava retornar para terminar alguns compromissos junto a Coroa Espanhola.
No decorrer desse tempo, a Inquisição Italiana assumiu a frente de capturar todos os seguidores da antiga religião e todos os Reinos passaram a servir ao Papado e a Aristocracia Romana. Eles não se viam há mais de três meses e muitas perseguições começaram a ocorrer durante esse período. Foi a época mais negra da história! O vilarejo foi devastado e ela foi levada em frente ao Tribunal da Inquisição Romana. Ele estava lá e a viu... Foi quando cada um soube a verdade sobre o outro.
Ele a procurou na prisão para conversar e ela lhe contou tudo. Ele ficou aflito, pois não sabia o que fazer e que atitude tomar... Tentou interceder por ela e explicou ao Sumo-Pontífice que ela era sua noiva e que nada tinha a ver com aquilo tudo; mas, foi em vão...  A sentença já estava decretada: ela seria decapitada como herege.
No dia da execução ele estava lá e quando o algoz ergueu o machado da execução, ele não se conteve: empunhou sua espada e subiu ao palco das condenações. Matou o algoz e cortou as cordas que prendiam sua amada. Porém, tudo foi em vão, porque em poucos minutos a guarda armada já havia cercado todo o tablado. O Bispo que a tudo assistia, insuflou a multidão dizendo: "Vejam: a feiticeira enfeitiçou nosso soldado! Queimem-na..."
Ela foi arrastada à fogueira e ele foi recolhido à masmorra, como traidor. Por ser soldado, não foi executado, mas terminou seus dias na prisão... Ela morreu em meio às chamas no centro da Cidade Romana. Encontraram-se anos depois no Plano Espiritual, para reconstruírem sua jornada juntos. Hoje, eles trabalham na Umbanda Sagrada e servem ao Amor Maior com dedicação e coragem.