quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA QUITERIA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA QUITERIA


A HISTORIA DA POMBA GIRA DAMA DA NOITE

A HISTORIA DA POMBA GIRA DAMA DA NOITE


A Historia da pomba gira Maria Navalha

A Historia da pomba gira Maria Navalha


A Historia Da Pomba Gira Rosa Caveira

A Historia Da Pomba Gira Rosa Caveira



A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 SAIAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 SAIAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA DA FIGUEIRA

A HISTORIA DA POMBA GIRA DA FIGUEIRA


A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 PORTEIRAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 PORTEIRAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA NEGRA

A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA NEGRA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DAS COBRAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DAS COBRAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MENINA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MENINA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MENINA DA PRAIA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MENINA DA PRAIA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO


A HISTORIA DA POMBA GIRA RAINHA DAS 7 ENCRUZILHADAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA RAINHA DAS 7 ENCRUZILHADAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA FARRAPO

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA FARRAPO


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DAS ALMAS E MARIA MULAMBO DAS 7 CATACUMBAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DAS ALMAS E MARIA MULAMBO 

DAS 7 CATACUMBAS


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A HISTORIA DA POMBA GIRA DA CALUNGA

A HISTORIA DA POMBA GIRA DA CALUNGA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA COLONDINA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA COLONDINA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DA ALMAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DA ALMAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DAS ALMAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA MULAMBO DAS ALMAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA PADILHA DAS 7 ENCRUZILHADAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA PADILHA DAS 7 ENCRUZILHADAS


domingo, 27 de outubro de 2019

A HISTORIA DA POMBA GIRA MADALENA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MADALENA


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DO CAIS

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DO CAIS


A HISTORIA DA POMBA GIRA FEITIÇEIRA

A HISTORIA DA POMBA GIRA FEITIÇEIRA


A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA DAS 7 SAIAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA DAS 7 SAIAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MIRIM NEGUINHA

A HISTORIA DA POMBA GIRA MIRIM NEGUINHA


A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 ROSAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 ROSAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA CIGANA DA ESTRADA

A HISTORIA DA POMBA GIRA CIGANA DA ESTRADA


sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A HISTORIA DA CIGANA DA CALUNGA

A HISTORIA DA CIGANA DA CALUNGA


A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA VERMELHA

A HISTORIA DA POMBA GIRA ROSA VERMELHA


A HISTORIA DA POMBA GIRA RAINHA DA CALUNGA

A HISTORIA DA POMBA GIRA RAINHA DA CALUNGA


A VERDADEIRA HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA PADILHA

A VERDADEIRA HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA PADILHA


A HISTORIA DA POMBA GIRA CIGANA 7 SAIAS

A HISTORIA DA POMBA GIRA CIGANA 7 SAIAS


A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DO BAGAÇO

A HISTORIA DA POMBA GIRA MARIA DO BAGAÇO


A HISTORIA DA POMBA GIRA TATA MULAMBO

A HISTORIA DA POMBA GIRA TATA MULAMBO


A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 SAIAS DA ESTRADA

A HISTORIA DA POMBA GIRA 7 SAIAS DA ESTRADA


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Pomba Gira Maria Navalha dos Sete Cruzeiros da Calunga

Pomba Gira Maria Navalha dos Sete Cruzeiros da Calunga




França, final do século XIX. Juliette estava desesperada. Aos 17 anos, filha de nobres franceses, estava prometida em casmento ao jovem Duque Dareaux. Mas havia se apaixonado por um dos cavalariços da propriedade de seu pai, entregara-se a essa paixão, e agora esperava um filho, fruto dese amor proibido. Somente confiara o segredo a sua velha ama Marie, quase uma segunda mãe, que a vira nascer e a criara. Sua mãe verdadeira já havia falecido. Marie a aconselhou a fugir com Jean, seu amado.
O rapaz a amava mais que tudo nesse mundo, e concordou que a única saída era fugirem juntos, para viverem uma vida humilde em algum outro país. Então, certa noite fugiram os três, levando apenas alguns poucos pertences e os cavalos. Perto da meia noite, Juliette e Maria esgueiraram-se até os fundos do pomar, onde o rapaz as aguardava. Montaram rapidamente e partiram.
Porém Sophie, a filha do caseiro, que era apaixonada por Jean e morria de ciúmes de Juliette, soube de tudo e avisou o nobre Antoine, pai da moça. Imediatamente ele partiu com seus homens em perseguição dos fugitivos. Em pouco tempo os alcançaram na estrad. Antoine gritou para que parasem. Asustado, Jean apresou o galope e um tiro fatal o acertou bem no meio das costas, varando-lhe o coração. Juliette correu para o amado, gritando de desespero, quando ouviu um segundo tiro. Olhou para trás, sua querida ama Marie jazia morta no chão.
Cega de dor e desespero, a moça pegou a arma de Jean e apontou-a para seu próprio pai. Minha filha, solte, esa alma! Ele gritou, mas Juliette apertou o gatilho e acertou seu pai, matando-o na hora. Chorando e em total descontrole, a jovem saiu corendo na escuridão daquela noite tenebrosa. A poucos metros havia uma ponte sobre um rio profundo, e Juliette jogou-se na água gelada, acabando com sua própria vida e a do filho que esperava.
No Astral, um triste destino aguardava seu espírito atormentado.. depois de vaguear por muitos lugares negros e portais de sofrimento, e conhecer as mazelas de incontáveis almas sofredoras como ela, Juliette foi recolhida por Espíritos Socoristas e se transformou na Pomba Gira Maria Navalha dos Sete Cruzeiros da Calunga, que socore aos que a invocam com palavras de fé, e um soriso constante de quem muito sofreu, e compreende o sofrimento alheio.


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A História da Pombo Gira Menina da Calunga

É Laroiê, é Laroiê.
é na calunga, é no calungá,
é Laroiê, é Laroiê,
que a Pombo Gira Menina é Mojubá.

Na meia noite ela dança,
no meio dia ela vai brincar,
menina linda nos traz esperança,
e no terreiro vai saravar.

Vem da calunga a linda pequenina,
trazendo sua Falange em nome de Oxalá,
ela é a bela Pombo Gira Menina
encantando e iluminando o nosso Gongá.

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    A história da Pombo Gira Menina da Calunga teve seu início no final do século XIX e início do século XX. Sua mãe, uma mulher da vida, a abandonou em uma viela da região, quando a menina tinha apenas sete dias de vida.

    Ela foi encontrada e cuidada por uma cafetina que ganhava a vida negociando as mulheres com trabalhadores vindos da grande expansão industrial da época e nesse ambiente de cabarés e bordéis ela passou sua infância.

    Aos nove anos de idade, por não lhe agradar muito viver e conviver em ambientes assim, a menina, chamada de Laura, nome dado pela cafetina, tinha uma grande vontade de fugir dali, porém não tinha condições e nem sabia como fazer. Ela se sentia presa, triste e assustada, pois sabia que aquela vida de meretriz na qual tinha tanto convívio, uma hora iria chegar para ela, assim como prometera a cafetina, que sempre lhe dizia que entre seus onze e doze anos, ela deveria começar a trabalhar com a prostituição.

    A menina ficava extremamente receosa com tudo aquilo e da mesma forma com que ela desejava uma saída daquela vida, ela desejava a mesma coisa a outras meninas de mais idade e que já estavam atuando como prostitutas, no domínio severo da cafetina.

    E assim dessa forma ela buscava mostrar as moças trabalhadoras da prostituição que a vida escolhida era muito sofrida, que era um acúmulo de cargas negativas, de tristeza, de desespero e que elas sempre iam sofrer sendo "escravas" da senhora dos cabarés e bordéis.

    Muitas dessas meninas ouviam a pequena Laura e refletiam sobre todos os fatos, e após uma grande reflexão, fugiam, retornavam a casa dos pais, buscavam ajuda com familiares e abandonavam os cabarés; quando essas partiam a cafetina ficava com muito ódio e já sabendo sobre as falas da menina Laura, ela a castigava intensamente e dizia que ela era a desgraça de sua vida, pois com seus dizeres as outras meninas, muitas delas estavam abandonando o trabalho de prostituta, fazendo assim com que a cafetina tivesse um grande prejuízo.

    Porém Laura não se importava com as torturas sofridas, ela acreditava estar fazendo o bem tirando as jovens daquela vida de escuridão.

    O tempo passou, e a menina Laura completara onze anos e de um modo vingativo a velha cafetina decidiu que ela deveria se prostituir, deixando a menina desesperada.

    A cafetina então marcou a data do acontecimento e a inocência de Laura seria entregue para o homem que pagasse o maior valor. O assunto se espalhou como fogo em pólvora, entre vielas, cabarés, bares e bordéis, todos falavam sobre a entrega da menina, conhecida como "a filha da cafetina do cabaré". Homens parecendo animais atrás de sua presa bebiam e gargalhavam falando do quanto estavam dispostos a gastar para ter a menina.

    Laura por sua vez chorava, aguardando o dia proposto pela cafetina, sem saber o que fazer para não ter aquele destino tão cruel. E em uma última tentativa de fazer com que a perversa mulher não a vendesse como um objeto qualquer, ela clamou em piedade, buscando tirar dela ao menos um pequeno gesto de carinho para que não a obrigasse a fazer com que sua vida fosse entregue nas mãos de um homem qualquer.
Porém a mulher não tinha piedade, por mais que Laura a implorasse, ela apenas a olhava com desprezo e gargalhando dizia-lhe que a menina havia feito ela perder muitos ganhos e agora ela deveria repor todo o valor perdido com a partida de outras meninas durante os anos em que Laura mostrava os caminhos terríveis da vida em prostituição.

    A cafetina vira as costas para a menina deixando-a ainda mais entristecida e sem um caminho a seguir.

    Voltando a seu quarto ela chora copiosamente chamando a atenção de outras meninas e todas vão até Laura para consolá-la.

    Laura roga ao Pai Maior e dentro de sua oração escuta uma voz doce e serena, dizendo-lhe que é à hora de partir, porém ela não deverá partir sozinha, deveria levar com ela todas as outras meninas de pouca idade que no bordel se encontravam e deveria também aceitar seu destino, pois ela estava destinada a dois caminhos e entre esses dois caminhos tinha que fazer uma escolha: ou se entregava as vontades da cafetina, ou fugiria e se entregava a caridade e ao auxilio as crianças e jovens, que sofriam em desespero assim como ela, porém a segunda opção seria uma entrega eterna e só poderia ser feito se ela estivesse de acordo em ter que partir quando necessário.

    A menina entendeu que ela era especial, tinha um amor grandioso por Deus, amava proteger os mais fracos e sempre buscou fazer o bem e a caridade; se para isso acontecer ela tivesse que partir precocemente, assim seria feito, pensou Laura, com uma maturidade que não condizia com sua pouca idade.

    Decidida em sair do bordel, Laura busca acertar com outras meninas como seria a fuga e assim foi acertado, naquela noite teria o encontro dos homens com a cafetina para o leilão da inocência da menina e essa seria a chance que Laura esperava, pois assim ela fugiria com as outras meninas e se livrariam do domínio da cafetina.

    A noite chegou e com a noite também o encontro dos homens no bordel, onde iriam tentar comprar a inocência de Laura. Todos eles animados, já embebedados, dando gargalhadas e se demonstrando animalizados. Diante deles estava a cafetina sorridente, já esperançosa em saber a quantia que arrecadaria com a negociação da menina Laura.

    Aproveitando o descuido da cafetina, Laura e as meninas fugiram, enquanto havia a negociação entre os homens e a cafetina. Quando a negociação se fez, o homem que adquiriu o direito de ser quem teria a menina pela primeira vez, ordenou que a cafetina trouxesse Laura até ele e assim ela iria fazer, porém ao adentrar no recinto onde deveriam estar às meninas, nada e ninguém foi encontrado

    A cafetina ficou com muito ódio ao perceber a fuga de Laura e das meninas, da mesma forma que o homem que havia pago por Laura.

    Pelas vielas da região, Laura buscava se esconder, da mesma forma as 21 meninas que com ela partiram e assim se tornaram livres, buscando cada uma seu caminho de luz e paz, distante das ordens pecaminosas da cafetina.

    O tempo passou, Laura preste a completar 13 anos de idade já conhecia a dureza das ruas, da fome, do frio, mas nada disso a tirava do caminho da caridade, pois ela buscava sempre fazer o bem, principalmente às crianças abandonadas, que volte e meia encontrava pelas ruas, levando-as a orfanatos ou conventos.

    A cafetina ainda não conformada com a fuga das meninas jurou se vingar e com o auxilio de alguns mercenários e do homem que havia pago por Laura, partiram em busca das meninas, para ou trazê-las de volta, ou ceifar suas vidas.

    Dias se passaram, e os mercenários contratados para encontrar as meninas e Laura corriam por toda a região e com isso foram encontrando as meninas fugidas e uma a uma foram sendo entregues a cafetina.

    E as 21 meninas foram novamente aprisionadas pela velha senhora dos bordéis.

    Laura ao saber do fato ficou arrasada, tinha que retornar ao cabaré e resgatar novamente suas amigas.

    Mas como fazer?

    Então ela percebeu que chegara à hora de se entregar a caridade eterna e foi até o encontro da cafetina no bordel. Lá ela ordena que a velha soltasse todas as meninas e se ela fizesse isso ela se entregaria nas mãos do homem que a comprou e passaria a fazer parte do bordel.

    A cafetina então aceita as condições de Laura, porém em seus olhos se via a maldade e a falsidade embutidas. A troca foi feita e as meninas seriam liberadas após ser constatado o ato com o comprador da inocência de Laura.

    O homem pega Laura pelo braço com violência, arrastando a menina para um dos quartos do local, enquanto a cafetina ordena aos mercenários que matem as outras meninas e só assim ela se sentiria vingada.


    E assim foi feito, uma a uma elas eram levadas aos fundos do local fétido e assassinadas pelos mercenários.

    Laura por sua vez tem uma visão enquanto o homem se preparava para desfrutar do corpo da menina, ela vê as meninas envoltas em poças de sangue, gritos, desesperos e tem a certeza de que a cafetina não tinha cumprido com o combinado entre elas. A menina se apossa de um punhal que o homem trazia consigo e sorrateiramente o esconde com ela, quando o homem chega diante dela, Laura crava o punhal no coração do homem, que com um grito pavoroso cai ao chão já sem vida. A cafetina ouve o som do grito desesperado do homem, corre até o quarto e vê Laura coberta pelo sangue do mesmo. Ela puxa o punhal do coração dele e crava no coração de Laura, que sente uma dor intensa, que vai se acalmando pouco a pouco. Laura sorri e agradece a velha cafetina por sua libertação, agora eterna.


    O pequeno corpo da menina Laura cai ao chão, porém seu espírito continuava na mesma posição, sorridente, um tanto mais tranquila, serena.

    Laura, agora em forma espiritual, abre os braços e diante dela e da cafetina, aparecem os espíritos das vinte e uma meninas assassinadas. As meninas fazem uma roda em volta de Laura e todas gargalhando dançam como se estivessem em uma brincadeira de ciranda.

    A cafetina assustadíssima sai correndo em desespero e vai de encontro com um bonde, que sem ter como parar a atropela deixando o corpo inerte da velha do cabaré no chão, enquanto Kiumbas lutavam entre si para levar o espírito dela para as profundezas, e assim a escravizá-la.

    A menina Laura agora sendo uma Entidade de Luz, ficou conhecida como Pombo Gira Menina da Calunga e trabalha pela e para a caridade em terreiros de Umbanda em uma forma linda, trazendo sempre com ela sua legião de vinte e uma Pombo Giras de semelhante aspecto.

    Ela também é companheira de trabalho do Exú Mirim e juntos com suas falanges penetram onde poucos conhecem. Sua ajuda é muito grande no que se refere à defesa deste ou daquele filho de fé do terreiro, ou mesmo quando algum filho do terreiro pede sua valiosa defesa, para outrem, principalmente se forem os que envolvem crianças, adolescentes e jovens.

    Ela também é companheira de trabalho de Tranca Ruas das Almas e quando esse Exú se manifesta, a Pombo Gira Menina sempre estará presente, incorporada a um médium ou não.

    Que a Pombo Gira Menina da Calunga guarde o caminho de todos nós!

   Laroiê Pombo Gira Menina!

Carlos de Ogum

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Pombo Gira Cigana Sete Facadas


De beleza exuberante e inteligência rara, Elisa se achava uma mulher sem sorte. Vivia infeliz: todos que a cercavam, todos a quem amava pareciam sofrer com ela. Uma maldição, pensava ela. Casada, logo o marido passou a se servir de putas, embora amasse e desejasse a mulher, que só penetrou uma vez, na primeira noite. Apesar de seu tremendo desejo por Elisa, só alcançava a ereção com outras. Ela sofria pelas dores do marido. Ele a acusava de rejeitá-lo e batia nela.

No começo, nem tudo era sofrimento. Daquela única vez nasceu Vitória. A menina cresceu bonita e saudável até os sete anos. Depois começou a definhar. “É a maldição!”, Elisa se culpava. O marido se enterrou de vez nos puteiros, ia chorar sua desventura no colo das putas. Todas as especialidades médicas foram consultadas, todas as promessas foram pagas, todas as rezas foram rezadas.
 
Consultados médiuns e videntes, cartomantes e benzedeiras, padres, pastores e profetas, nada. A saúde da menina decaía dia a dia. Até que Elisa foi bater à porta de mãe Júlia, famosa mãe-de-santo. “Você nasceu com a beleza de Oxum e a majestade de Xangô, mas seu coração é de pombo gira”, disse-lhe a mãe-de-santo, depois de consultar os búzios.
 
A vida recatada de Elisa, seu senso de pudor, sua modéstia, a repressão de costumes que ela mesma se impunha, a falta de interesse pelo sexo, tudo isso negava os sentimentos de seu coração, contrariava sua natureza. A cura, a redenção dela e dos seus, tinha uma só receita: libertar seu coração, deixar sua pombo gira viver. Foi a sentença da mãe-de-santo. 
 

Leve e livre.

Ali mesmo, naquele dia e hora, sem saber como nem por quê, Elisa se deixou possuir por três homens que, no terreiro, tocavam os atabaques. O prazer foi imenso. Sentiu-se leve e livre pela primeira vez na vida.
 
Pensando na filha, voltou correndo para casa e encontrou a menina melhor, muito melhor: corria sorridente, pedia comida, queria brincar.
 
No dia seguinte, Elisa voltou ao terreiro. “Seu caminho é longo ainda”, mãe Júlia disse. Depois a abençoou e se despediu. Um dos homens com quem se deitara no dia anterior lhe deu um endereço no centro da cidade, um local de meretrício, que Elisa começou a freqüentar. Passava as tardes lá, enquanto o marido trabalhava. Voltava para casa mais feliz e esperançosa, a menina melhorava a olhos vistos.
 
Para preservar a honra do marido, Elisa se vestia de cigana, cobrindo o rosto com um véu. O mistério tornava tudo mais excitante. A clientela crescia. O marido soube da nova prostituta e quis experimentar. Na cama com a Cigana, o prazer foi surpreendente, muito maior do que sentira com Elisa e que nunca fora superado com outra mulher. Seria escravo da Cigana se ela assim o desejasse. Mas a Cigana nunca mais quis recebê-lo.
 
A insistência dele foi inútil. “Um dia te mato na porta do cabaré”, ele a ameaçou, ressentido e enciumado. Ela se manteve irredutível.
 
Num entardecer de inverno, ele esperou pela Cigana na porta do puteiro e, na penumbra, lhe deu sete facadas. Assustado, olhou o corpo ensangüentado da morta estirado no chão e reconheceu, no piscar do néon do cabaré, o rosto desvelado de Elisa. Um enfarto o matou ali mesmo.
 
Longe dali, no terreiro de mãe Júlia, o ritmo dos tambores era arrebatador. As filhas-de-santo giravam na roda, esperando a incorporação de suas entidades.
Na gira, exus e pombo giras eram chamados. Os clientes, que lotavam a platéia, esperavam sua vez de falar de seus problemas e resolver suas causas. As entidades foram chegando, e o ambiente se encheu de gargalhadas e gestos obscenos. O ar cheirava a suor, perfume barato, fumaça de tabaco, cachaça e cerveja. A força invisível da magia ia se tornando mais espessa, quase podia ser tocada.
 
Cada entidade manifestada no transe se identificava cantando seu ponto. De repente, uma filha-de-santo iniciante, e que nunca entrara em transe, incorporou uma pombo gira.
 
Com atrevimento ela se aproximou dos atabaques e cantou o seu ponto, que até então ninguém ali ouvira: 
 
“Você disse que me matava
na porta do cabaré
Me deu sete facadas
mas nenhuma me acertou
Sou Pombo gira Cigana
aquela que você amou
Cigana das Sete Facadas
aquela que te matou”.
 
Mãe Júlia correu para receber a pombo gira, abraçou-a e lhe ofereceu uma taça de champanhe. “Seja bem-vinda, minha senhora. Seu coração foi libertado”, disse a mãe-de-santo, se curvando.
Pombo gira Cigana das Sete Facadas retribuiu o cumprimento e, gargalhando, se pôs a dançar no centro do salão.